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sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Atuação do Brasil na África


Alvo de intensos esforços diplomáticos, comerciais e de cooperação durante a Presidência de Luiz Inácio Lula, a África tornou-se um exemplo de como o Brasil é capaz de ampliar sua presença no mundo.
O governo brasileiro acredita que a presença na África é importante para garantir espaço entre futuros países consumidores, uma vez que cada vez mais nações africanas vêm deixando para trás histórias de conflito e combatendo a pobreza.
O presidente Lula gosta de lembrar que, desde janeiro de 2003, visitou 27 países africanos, “mais que todos os presidentes da História do Brasil juntos”.
“A África deixou de ser um continente problema e está cada vez mais se tornando um continente de oportunidades”, afirmou uma fonte do Ministério das Relações Exteriores, resumindo um pensamento que o próprio Lula e seu chanceler, Celso Amorim, costumam repetir.
O valor das relações comerciais entre Brasil e África, que era de US$ 5 bilhões ao final de 2002, mais que quintuplicou em 2008, quando chegou a US$ 26 bilhões.
Entre 2002 e 2008, as exportações cresceram 340% e três quartos delas foram de itens manufaturados.
Os números refletem o dinamismo com que o setor privado brasileiro tem se expandido no continente. Empresas como Odebrecht, Vale e Camargo Correa competem agressivamente com concorrentes por mercados.
Depois de quase quatro décadas de guerra de independência e civil, Angola vem crescendo a uma taxa média anual de 13% desde o fim dos conflitos, em 2002.
O governo angolano prometeu construir até 2012 um milhão de casas para a população de mais baixa renda, e empresas como a Odebrecht, que já tem uma presença de três décadas no país, têm agarrado as oportunidades.
Mas por vezes a presença brasileira encontra concorrentes fortes. O principal deles é a China, que tem se inserido fortemente no mercado africano em busca de recursos naturais para alimentar seu crescimento econômico.
Estima-se que o banco chinês de desenvolvimento tenha investido cerca de US$ 10 bilhões na última década em projetos em Angola - país que é o terceiro maior produtor de petróleo da África.
Em Moçambique, os US$ 2 bilhões que a mineradora Vale investe para começar a extrair carvão da mina de Moatize, a partir de janeiro de 2011, parecem pequenos diante dos US$ 15 bilhões que a China investirá no país nos próximos cinco anos - principalmente em projetos de infraestrutura. Além disso, em 2006, a Vale perdeu para a concorrente chinesa a concessão de um projeto de extração de minério de ferro no Gabão. Comentando esse episódio recentemente na Tanzânia, Lula desafiou os concorrentes chineses e disse que a Vale, se tivesse sido escolhida, criaria mais empregos locais.
Empresas brasileiras, entretanto, vêm sendo alvo de críticas na região. Em Moçambique, a Camargo Correa está na berlinda devido a uma barragem, que segundo críticos seria construída sem que estudos de impacto ambiental tenham sido concluídos.
O projeto Mpanda Mkuwa, no valor de US$ 2 bilhões, erguerá uma represa no Rio Zambeze para gerar 2,7 mil megawatts de energia. Apesar de os estudos sobre o impacto na biodiversidade do local só ficarem prontos no fim do ano que vem, o governo moçambicano deu o sinal verde para o projeto no mês passado.
“Esta imagem de que as empresas brasileiras são mais éticas que as outras, por exemplo, as chinesas, é completamente falsa”, diz o porta-voz da organização moçambicana Justiça Ambiental, Jeremias Filipe, apesar da culpa ser principalmente o governo de seu país, completa Filipe.
Menos polêmicos são os projetos de cooperação que o Brasil desenvolve na África. A chamada “diplomacia da generosidade” rende ao país prestígio e liderança em fóruns internacionais.
Segundo a Agência Brasileira de Cooperação (ABC), para o biênio 2009-2010 estão previstos 150 projetos de cooperação na região, com um orçamento total de US$ 38 milhões.
De todo o volume de recursos alocados para projetos de cooperação técnica no continente, 74% estão nos países de língua portuguesa – para os quais o Brasil é uma espécie de “irmão maior”, nas palavras do embaixador brasileiro em Moçambique, Antonio de Souza e Silva.
Um dos projetos de cooperação mais importantes do Brasil na África é o chamado Cotton 4, no qual o país transfere tecnologia para aperfeiçoar o algodão em quatro países pobres e altamente dependente das exportações desse produto (Benin, Burkina Fasso, Chade e Mali).
O projeto se tornou tão importante que até a Empresa Brasileira de Pesquisa Agrícola (Embrapa) passou a ter um representante no Mali para coordenar o projeto.
Com custo de US$ 4 milhões para o Brasil, o Cotton 4 permitiu que o governo brasileiro demonstrasse força, ao articular na Organização Mundial do Comércio (OMC) uma retaliação aos EUA por seu protecionismo ao algodão.

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